Essa é a interpretação de Eduardo Azevedo Quadros, de 81 anos, o primeiro anestesista da região.
Aposentado? Que nada. Ele pode ser encontrado no Centro Cirúrgico da Beneficência Portuguesa, transportando os pacientes para os braços de Morfeu.
Formado pela USP, e com 56 anos de experiência, diz que a anestesia chegou a ser proibida pela religião, pois Deus, ao expulsar Eva do Paraíso, disse: ‘Darás à luz com dor’. Muitas mulheres do passado foram queimadas, acusadas de bruxaria, porque usaram ervas para amenizar a dor do parto.
A anestesia, conta o dr. Eduardo, nasceu de fato a 16 de outubro de 1846, quando o médico Morton, em Boston (EUA), adormeceu o paciente para uma cirurgia.
Suporte de vida
Antes disso, eram usados éter e clorofórmio, mas sem estudos aprofundados e com efeitos rápidos. Outra curiosidade, revela, é que o índio brasileiro usava curare nas armas para abater a caça, que comia sem que nada lhe acontecesse. D. Pedro II, intrigado, mandou amostras para um importante cientista francês.
‘‘Ele fez estudos qualificados e descobriu a ação periférica do curare, não digestiva. Foi depois disso que o veneno passou a ser usado na Medicina, para casos de tétano e de epilepsia, com resultados favoráveis. Em 23 de janeiro de 1943, no Canadá, Grifitti e Johnson começaram a usar o curare como anestésico’’.
Segundo Eduardo Quadros, a anestesia é o suporte de vida para quem vai ser operado, principalmente na área cardíaca. A pessoa fica tranquila, com boa concentração de oxigênio, quedas do metabolismo basal e da adrenalina e com ótima assistência ventilatória.
Tranquilidade
Há riscos? De acordo com o médico, eles são mínimos, quase 0, uma vez que o paciente é totalmente monitorado. Já os riscos da cirurgia independem do processo anestésico.
‘‘É normal ter medo da anestesia, por falta de informação. O anestesista deve explicar tudo ao paciente que, antes de mais nada, não deve pensar na anestesia em si, mas nos benefícios da cirurgia. Pode ser a diferença entre a doença e a saúde, a vida e a morte’’.
Provar do próprio veneno é corriqueiro em sua vida. Quadros já sofreu mais de dez cirurgias, e a mais séria foi para reparar um grave problema hematológico, que o obrigava a se submeter constantemente a transfusões de sangue.